Bill Williams é o criador de alguns dos indicadores de mercado mais populares: Awesome Oscillator, Fractals, Alligator e Gator.
Como a recessão afeta o mercado financeiro?
2022-12-29 • Atualizado
Informação não é consultoria em investimentos
A economia nunca avança numa linha reta. A associação entre desenvolvimento económico e ciclos de altas e baixas é conhecida pelos economistas. As recessões são parte inevitável do ciclo de negócios. Recessão é quando o PIB cai em dois ou mais trimestres consecutivos. Este cenário habitualmente traz também alta do desemprego, baixa nas vendas a retalho e contração dos índices de rendimentos e produção.
Hoje, quase todos os CEOs americanos estão a se preparar para uma recessão. A maioria dos economistas acredita que um revés económico é iminente. A explicação? A alta dos juros, provocada pela disparada da inflação, limita o crescimento ao encarecer cartões de crédito, financiamentos, compras de carros, empréstimos às empresas e, no geral, o crédito que fomenta o avanço da economia. A última vez que o Fed teve conduta tão dolorosa num horizonte de 12 meses foi em 1980, levando a um grave revés económico.
A situação é pior nos países europeus, onde, além dos juros altos, há o encarecimento do gás com o arranque do inverno. Na busca de cortes nas despesas com gás, a atividade económica arrefece.
O quanto dura uma recessão?
De 1854 a 1919, a recessão média durou 21,6 meses. Com o passar dos anos, porém, as recessões ficaram mais breves. Conforme dados da Agência Nacional de Pesquisa Económica (NBER) americana, entre 1945 e 2009 a recessão média nos EUA durou 11 meses. Nos últimos 30 anos, o país atravessou quatro recessões. Vejamos.
A recessão da Covid-19
A última recessão arrancou a fevereiro de 2020 e durou apenas dois meses. Esta foi a mais breve recessão na história dos Estados Unidos.
A Grande Recessão (dezembro de 2007 a junho de 2009)
A bolha do mercado imobiliário foi uma das causas da Grande Recessão. Esta não foi tão severa quanto a Grande Depressão, mas a sua longa duração e as consequências graves deram causa a um nome do mesmo tipo. Com 18 meses de duração, a Grande Recessão teve quase o dobro de duração das outras recessões recentes nos EUA.
A recessão da Internet (março a novembro de 2001)
No arranque dos anos 2000, os EUA tinham vários grandes problemas económicos, como o estouro da bolha da tecnologia, os escândalos contabilísticos em empresas como a Enron e os ataques terroristas de 11 de setembro. Em conjunto, os problemas causaram uma breve recessão, da qual a economia recuperou-se rapidamente.
A recessão da Guerra do Golfo (julho de 1990 a março de 1991)
No arranque dos anos 90, os EUA sofreram uma breve recessão de oito meses, causada em parte pela alta do petróleo na Primeira Guerra do Golfo.
É possível prever uma recessão?
Dado que previsões económicas são incertas, prever futuras recessões não é nada fácil. Exemplo. No início de 2020, a Covid-19 apareceu — aparentemente do nada — e, em poucos meses, parte da economia americana fechou e milhões de trabalhadores perderam os seus empregos.
Curva de rendimentos invertida
Curva de rendimentos é um gráfico que desenha o rendimento de uma série de títulos do governo americano — de notas de quatro meses a títulos de trinta anos. Quando a economia funciona normalmente, os rendimentos dos títulos de maior prazo devem superar os rendimentos dos de curto prazo. Quando são os rendimentos de longo prazo que rendem menos que os de curto prazo, os investidores preocupam-se. Este fenómeno é conhecido como inversão da curva de rendimentos e já previu recessões anteriores.
Baixa na confiança dos consumidores
Os consumidores são a principal força motriz da economia dos EUA. A baixa na confiança dos consumidores significa que as pessoas não veem segurança nos gastos. Isto faz desacelerar a economia. Pesquisas que registam baixa consolidada na confiança dos consumidores podem ser sinal de problemas económicos iminentes.
Baixas súbitas no mercado de ações
Uma baixa considerável no mercado de ações também pode sinalizar uma recessão, pois os investidores podem estar a vender os ativos na expetativa de um arrefecimento económico.
Alta do desemprego
Se as pessoas perdem os seus empregos, isto é mau sinal para a economia. Alguns meses seguidos de fortes baixas nos níveis de emprego alertam para a iminência de uma recessão, mesmo sem um anúncio oficial de recessão da parte da NBER.
Como é o desempenho dos ativos numa recessão?
Diferentes dos investidores, os traders não têm medo de recessões porque podem lucrar com negociações em ambas as direções: compra (long) e venda (short). Todavia, é extremamente importante entender o comportamento dos ativos durante uma recessão para fazer a escolha certa.
A recessão mata o petróleo
Historicamente, alta no preço do petróleo geram mais inflação futura e vice-versa. As despesas com energia e combustíveis, também ligadas aos preços dos transportes e dos alimentos, formam parte significativa da cesta de bens de consumo.
Os consumidores compram menos numa recessão, então os produtores também reduzem os seus gastos. A demanda da energia cai e o preço do petróleo cai consideravelmente. Traders de petróleo devem monitorizar atentamente o ritmo de consumo para prever baixas nos preços do petróleo.
Ouro
No passado, os preços do ouro e as recessões tinham uma relação inversa. Quando a economia perdia força, o preço do ouro habitualmente subia. Nas últimas três recessões — de 2020, 2007 e 2001 — o preço do ouro subiu enquanto o valor do S&P 500 caiu.
Isto aconteceu porque, nas últimas duas décadas, os bancos centrais andaram a apoiar as economias com cortes nos juros e afrouxamento quantitativo (compra de dívida externa) nas fases de recessão, causando crescimento da inflação global.
Desta vez, a regra deve ser a mesma, sobretudo com a chegada das eleições presidenciais americanas de 2024. O mercado de ações geralmente segue o agregado monetário M2. Isto significa que o Federal Reserve terá que imprimir mais dinheiro para potenciar a bolsa e a economia.
Assim, a longo prazo, é mais provável que o ouro valorize. A melhor hora para comprar ouro é no ponto extremo de uma recessão económica, quando os bancos centrais revertem as suas políticas e passam a estimular as economias com juros baixos e mais dinheiro em circulação. Nestes momentos, o big money compra o metal amarelo e faz subir o seu preço.
Ações e criptomoedas
As recessões impactam ações diferentes de formas diferentes, dependendo do tipo de empresa. Empresas de áreas como serviços públicos, saúde e consumo tendem a permanecer em estabilidade durante recessões. Empresas mais endividadas, como as de viagens e tecnologia, bem como as empresas do setor industrial, tendem a ficar aquém do desejado no mercado.
O mercado de criptomoedas ainda é um setor jovem. Assim, a maioria dos projetos tem alto endividamento. Logo, os investidores preferem se livrar das criptomoedas no arranque da recessão, regressando quando a economia volta a crescer.
Por outro lado, os setores que têm mau desempenho nas recessões dão bons resultados nas fases de retoma pós-recessão. Os setores de finanças, imóveis, consumo discricionário, indústria e materiais são exemplos disto.
Pode negociar com o aumento de volatilidade no mercado causado pela recessão ao criar uma conta de negociação e abrir uma posição com CFDs. Estes são derivativos financeiros, que permitem especular com a alta do mercado fazendo compras (posição longa) e com a baixa do mercado fazendo vendas (posição curta).
Moedas
Nas recessões, cai a atividade empresarial do país e a economia desacelera. Nesta dinâmica é provável que a moeda deprecie, pois o país perde atratividade aos olhos dos investidores.
Como as economias dos grandes países estão interligadas, as recessões não acontecem num país específico — elas se espalham pelas regiões. Neste caso, têm vantagem as moedas dos países com balanço comercial mais estável e maior reserva de divisas sobre as demais, pois estes países podem vender ativos estrangeiros e obter dinheiro quando a volatilidade aumenta.
Atualmente, o dólar americano (USD) e o franco suíço (CHF) são considerados como moedas de refúgio (safe haven).
Dólar americano (USD)
Quando o dólar americano mostra força contra moedas de maior rendimento, isto significa que o mercado provavelmente está insatisfeito com os dados ou notícias económicas recém-publicadas. Assim, os investidores do estrangeiro compram os títulos do Tesouro dos EUA como refúgio. Para comprá-los, é preciso comprar USD. Quando muitos investidores o fazem num mesmo momento, o USD valoriza.
Franco suíço (CHF)
O franco suíço é outra moeda considerada refúgio. A estabilidade política, a política monetária conservadora e a firmeza económica fazem do CHF uma moeda estável que atrai investidores internacionais em tempos de crise.
Apesar das várias crises no mercado financeiro global, a Suíça sempre conseguiu perseverar sem grandes problemas.
Quando a economia europeia enfrenta uma recessão, o franco suíço (CHF) tem alta probabilidade de ganhar força contra as moedas europeias de maior rendimento.
Como negociar numa recessão
Venda para aproveitar a baixa do mercado
As vendas a descoberto (shorting) são uma forma de tirar proveito de um mercado em baixa. Muitos traders utilizam derivativos financeiros, como CFDs, para vender o ativo a descoberto. Com estes instrumentos, os traders podem tomar posições especulativas quanto ao movimento do preço do ativo, sem precisar de ter a posse de uma quantia qualquer deste ativo.
Os melhores ativos para vender a descoberto numa recessão são:
- Ações dos setores de viagens, indústria e tecnologia, e criptomoedas. Os investidores livram-se de ativos arriscados e de projetos com alto endividamento e fazem cair os preços destes.
- Petróleo (Brent e WTI). Quando aumenta a atividade das empresas, a demanda do petróleo sobe e provoca a alta dos preços. Nas recessões, observa-se o contrário: os preços das commodities tendem a cair.
- Moedas de alto rendimento (AUD e GBP) x moedas de refúgio (USD e CHF). Os investidores deixam de buscar rendimentos maiores e concentram-se num refúgio que os ajude a preservar o seu capital. Consequentemente, caem as moedas de maior rendimento.
Compre com a retoma do mercado
Comprar numa recessão pode ser arriscado. É por isto que traders e investidores esperam a virada inicial, quando muitos ativos atingem os seus pontos de mínimo. Eles compram nestes níveis, tentando obter o máximo de lucro com a eventual retoma pós-recessão.
Os melhores ativos para comprar numa retoma da economia são:
- Ouro. Os governos regressam à política monetária ultradovish, imprimindo dinheiro, comprando ativos com os seus saldos e criando o risco de alta da inflação no futuro. A perspetiva de inflação alta torna o ouro interessante.
- Ações dos setores de viagens, indústria e tecnologia, e criptomoedas. Estes ativos ficam baratos e, portanto, interessantes para investidores de longo prazo.
- Petróleo (Brent e WTI). Quando aumenta a atividade das empresas, a demanda do petróleo sobe e provoca a alta dos preços.
- Moedas de alto rendimento (AUD e GBP) x moedas de refúgio (USD e CHF). Nestas fases, os investidores retomam o apetite por riscos (risk-on sentiment) e compram títulos de maior rendimento. As moedas dos países em causa também sobem.
Conclusão
Uma recessão cria inúmeras oportunidades, para traders e para investidores. Com a oportunidade de abrir posições longas e curtas (negociações de compra e de venda), os traders podem aumentar o seu capital consideravelmente com a alta volatilidade. Os investidores podem comprar os ativos desejados a preços baixos.
Para ter sucesso, precisa de entender a causa da recessão e as possíveis soluções do governo para o problema (o mais comum é uma política monetária ultrarrelaxada). Com a FBS, pode ganhar dinheiro a vender ações, criptomoedas e petróleo em fases de recessão. Também pode aumentar o seu capital a comprar ouro e outros ativos quando a economia retoma o crescimento.
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